466 Zenbakia 2008-12-19 / 2009-01-02

Gaiak

Um pouco dai aqui

BARRETO DE SOUZA, Cristina



No meu tempo de criança, natal e ano novo eram momentos de muita excitação, expectativas e muita alegria. Uma alegria sem motivo exato, o motivo era porque era festa. Era durante a passagem do ano novo quando eu corria entre minha casa e a casa da minha madrinha (que morava do lado) durante as doze badaladas cantando adeus ano velho feliz ano novo que tudo se realize no ano que vai nascer muito dinheiro no bolso saúde pra dar e vender... que o auge dessa emoção me tocava.

Hoje, e já uma mulher, ainda gosto muito da festa do fim do ano, quando nos vestimos de branco, vamos ao mar dar presentes a Iemanjá, Deusa africana, rainha do mar e de nossas cabeças. É nesse momento que quando pulamos as sete ondas, deixamos para traz o ano que acaba e nos projetarmos no ano que começa com toda a força dos nossos projetos futuros. São momentos de esperanças e de alegria que se terminam depois de alguns copos, algumas velas acesas e de abraços trocados.

Foto:yosoyjulito

http://www.flickr.com/photos/informalismo_abstracto/2582891035/

Estas festas sempre tiveram importância para mim porque é uma festa de família, de amigos. A boa ceia, os presentes são complementos para que esses momentos deliciosos sejam ainda maiores.

Sem nehuma dúvida que é no Brasil onde essas festas se passam com mais clima de festa com muita música e muita produção, da cabeça aos pés. Nem mesmo no Quebec, durante os cincos anos de nossa vida que passamos por lá, nem aqui no País basco, nunca tive algo parecido, essa capacidade de fazer festa que tem o povo brasileiro.

Hoje, sendo mãe, tenho muito prazer quando monto com os meus filhos o presépio, quando decoramos a árvore de Natal.

A versão que adotei para os meus filhos sobre o Olentzero é aquele na qual o carvoeiro desce da sua montanha e que isso marca o início do solstício de inverno , quando ele traz o carvão que simboliza o fogo, o calor que encontramos em nossas casas com o fogão a lenha ou com a chaminé.

Na verdade, o que mais gosto dessas festas são os valores culturais e morais que podemos ver e que me abrem os olhos para melhor conhecer minha cultura de origem e essa daqui, por adoção. Desta resultam valores antigos, ligados a época de quando os bascos eram regidos pela natureza; daquela, valores deixados pelos africanos ao povo brasileiro.

Claro que me peguei repetindo mentalmente as canções que cantarei com os meus filhos durante a nossa balada natalina em nossa cidadezinha.

Sim... estaremos vestidos tradicionalmente e enfretaremos com muita músicas a dureza, não somente do frio, mas de todas as portas e janelas que não abrirão para nos acolher.

Onde está o espírito de confraternização que preconizamos durante essa época? Eu tenho meu coração partido a cada ano quando vejo a criançada da nossa ikastola solitária pelas ruas cantando em sua língua todas as histórias desse velho carvoeiro.

Foto:punto

http://www.flickr.com/photos/puntopili/2142922548/

Para mim, vivenciar aqui essas festas não me distancia muito do meu país; vivo no País Basco desde 2005, onde encontro muitos pontos em comum com o meu.

Vivo na Basse Navarre e as montanhas me fazem lembrar das montanhas mineiras; minha região preferida do Brasil.

A culinária basca também me faz pensar salivando sempre na culinária brasileira com os excelentes ensopados de peixes, diferentes pratos com porco... Em ambos os casos, uma culinária simples e saborosa.

Sendo uma mulher urbana, foi vivenciando aqui em hegoalde que aprendi o respeito que devemos ter com a profissão de agricultor.

Desde que estou aqui, vivendo no campo, comecei a observar e a admirar a beleza natural que temos e ainda a aprender com a natureza, pois é a vida no campo que me fez retornar a valores que a vida urbana me fez esquecer, a vida no campo me faz redescobrir a força da natureza.

Em um momento quando todas as ações para salvar o nosso planeta, quando a nossa saúde passa pelo respeito da natureza, valores antigos ganham força ou, ao menos, é isso o que deveria acontecer. Assim, poderei acreditar que não precisamos mais ter medo e nem vergonha de abrir nossas janelas para olhar o que o mundo nos mostra atrás do canto das crianças, ou de uma natureza completamente em desequilíbrio.

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